quarta-feira, 6 de abril de 2011

À Volta do Tempo

Foi apenas um instante, mas, pros dois, pareciam horas. Certamente, vai prosperar por dias. Quiçá anos. Talvez a vida inteira. Vai trazê-la, em breve, para as curvas perigosas destas palavras. Eles conversam por enigmas. Eles são enigmas entre si. Ela estava por acaso em sua direção. E lhe dirigiu o olhar completamente tomado pelo ódio, porém congruente de amor. Continha uma sádica e ao mesmo tempo sincera vontade de sorrir. Revelava saudade, surpresa e veracidade consigo mesma. Quando ele a viu, reparou na beleza, se apaixonou, e só depois a reconheceu. Pela segunda vez, ele se apaixonou à primeira vista por ela. E logo na sequência sentiu tudo o que o olhar dizia e também o que no fundo queria dizer. Um encontro no âmago dos dois. Naquele instante tiveram que novamente pensar um no outro. Ela a passos largos, parecia apressar o tempo. Na sensação de protegida, colecionava aqueles vastos segundos de eternidade. Ele parado, ela robusta subia a Augusta. Ele sem qualquer reação. Mas bem sabia que gostaria de respondê-la com sorriso. Não deu. Estático, lhe restou a pergunta de quanto será que a custa lhe sorrir de volta. Quanto será que custa? Naqueles dias, ele escrevia uma canção que pedia pro tempo parar, que veio a calhar em tal desfecho, bem nessa noite, quando levou pra casa o sentimento desse encontro concluiu a sonata desta maneira: "dentre as voltas que o mundo dá, somente o tempo que não volta". (Feliperas França)