Madrugada, quase duas da manhã e minha cabeça a borbulhar palavras. Iniciava algo com "vozes que vem ao voar de vento, a ecoar mesmo sem serem ditas". Talvez "afinidade à distância, amor a prazo, saudades em toneladas, retratos de uma falta que não existe ou nunca existiu". Pensamentos que defini como D.P.P. P. F. - Devaneios Pré-Poesia de um Poeta Fingidor. Até que a concentração foi por água abaixo com o ruído extremamente alto de um helicóptero.
Da varanda confirmei e reparei muitos vizinhos acordados pelo mesmo barulho e, talvez, pela mesma curiosidade: o que faria um helicóptero naquela hora, num bairro residencial que nem tem heliporto? Durante vinte minutos sobrevoou ao redor do prédio, numa média de trinta segundos cada volta. Foram cerca de quarenta voltas com manobras bruscas. Não tinha holofotes como os da polícia quando está à caça de fugitivos. Aparentemente, não procurava por nada, mas aproximava-se muito do prédio. Polícia? É, realmente melhor ligar pra polícia. Não é um fato comum de uma cidade grande, tal qual Will Eisner os descreveu tão bem em Avenida Dropsie.
Liguei e ao relatar o fato para a atendente, ela me respondeu: Senhor, infelizmente, é impossível enviar uma viatura para conter um helicóptero. Dei risada e disse que o motivo da minha ligação não era solicitar uma viatura, mas sim, saber se havia alguma operação policial na região. Ela voltou a afirmar: Senhor, infelizmente, uma viatura não pode conter um helicóptero. Senti em suas palavras que não acreditou em mim e que achou que era um trote. Ao fundo, a voz irônica de um atendente em outra ligação: "aham, um helicóptero rodando o prédio"?
Os versos voaram sabe-se lá para onde...
terça-feira, 31 de março de 2009
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